Atualmente, país recicla 47% dessas embalagens, média acima da americana (28%), mas abaixo da europeia (62%). Proposta das empresas do setor é garantir a compra de todo o caco de vidro que for produzido no país
TONI SCIARRETTA, DE SÃO PAULO
A indústria de vidro negocia um acordo que poderá fazer do Brasil uma potência verde, capaz de reciclar de 95% a 100% das embalagens de vidro consumidas no país, acima das médias europeia e americana, de 62% e 28%.
Hoje, o país recicla 47% dessas embalagens, segundo a Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro).
Quinto maior mercado consumidor na próxima década, o Brasil tem história e know-how na reciclagem.
Só em catadores, são entre 800 mil e 1 milhão de profissionais, além de uma indústria ainda informal com 40 mil coletoras organizadas de sucata e 700 cooperativas.
Para viabilizar essa ambição, indústrias como a Veral- lia, do grupo francês Saint Gobain, se propõem a comprar todo o caco brasileiro.
“Temos como reciclar todo o vidro brasileiro. O Brasil é um dos países de maior potencial no vidro “verde”, que é o futuro das embalagens”, diz Jérôme Fessard, presidente mundial da Verallia.
As duas exigências são que o caco tenha volume suficiente para operacionalizar o processo e que o preço desse dejeto seja o mesmo do que pagariam pela matéria-prima virgem; do contrário, teriam de repassar os custos.
Segundo Lucien Belmonte, superintendente da Abividro, o setor foi o primeiro a apresentar um projeto ao governo após a sanção do marco regulatório dos resíduos sólidos, no final de 2010.
No Brasil, as metas são ambiciosas: extinguir os lixões, universalizar a coleta seletiva até 2015 (só 443 de 5.560 cidades têm coleta seletiva) e reciclar 40% do lixo seco até 2031 (hoje, menos de 15% são reciclados).
RESISTÊNCIAS
O problema é fazer o custo da reciclagem caber nesse orçamento sem que ninguém tenha de absorver aumento de preço. Todos os 31 países que prosperaram na reciclagem tiveram custos maiores.
A maior resistência é das envasadoras. Empresas como Nestlé, Unilever, P&G, Coca-Cola e AmBev resistem em pagar suas partes, como fazem nos EUA e na Europa.
Para “reciclar” uma tonelada de caco, a indústria paga hoje R$ 260 -R$ 120 aos catadores, R$ 40 aos beneficiadores (limpeza), R$ 80 ao frete (depende do local), R$ 10 vão para campanhas de educação e R$ 10 para custos administrativos dos gestores dessa logística.
Se processar matéria-prima virgem, o custo fica em R$ 220 (€100). É esse o valor que a indústria se dispõe a pagar. Na Europa, o caco sai entre €60 e €70 a tonelada.
Para fechar a conta, a proposta é que os R$ 40 restantes fiquem para os envasadores e para o governo, sob forma de incentivo fiscal.
“Esse modelo não é só para o vidro; vale para todas as embalagens. O trabalho dos catadores é o mesmo”, disse André Vilhena, diretor do Cempre (Compromisso Empresarial com a Reciclagem).