O artigo “O triste fim do Guarujá” de Antonio Fernando Pinheiro Pedro, nos convida a pensar, em um momento tão decisivo, sobre o futuro que queremos para Ilhabela.
Ilhabela: um lindo destino Turístico próximo ao maior emissor de turistas do país
É tempo de reflexão!
O futuro, para nós quando somos crianças, sempre parece inatingível. Algo que vai demorar muito para acontecer!
Mas para os adultos gera ansiedade e muita… muita responsabilidade. Este triste exemplo de degradação do Guarujá mostra, com estatísticas, o que acontece quando não somos responsáveis com o futuro. Em menos de uma década acabaram com um destino turístico por simples negligência, falta de planejamento e fiscalização!
Isso já aconteceu com vários destinos turísticos brasileiros, notadamente com os de São Paulo (Guarujá, Ubatuba), Rio (Angra dos Reis e Búzios), Santa Catarina (Camboriú e Florianópolis) e muitos outros!
Estamos quase na curva do nosso desenvolvimento máximo permitido por estudos realizados pela USP, IG e diversos outros órgãos que demonstraram que 40 mil pessoas seria o tamanho ideal para que Ilhabela possa ter sua preservação ambiental respeitada e o desenvolvimento socioeconômico possível de acordo com uma matriz de desenvolvimento baseada no turismo, no ecoturismo e em sua cadeia artesanal produtiva. Todas as oficinas que fizemos para o Plano Diretor, PMMA e iniciativas do IIS como o “Veracidade Ilhabela”, demonstram que é essa a vontade de uma sociedade que está buscando sustentabilidade e qualidade de vida nesta Ilha.
Ainda há tempo e depende de nós!!!
O TRISTE FIM DO GUARUJÁ
O Guarujá, antiga “Pérola do Atlântico”, sucumbiu à violência e à criminalidade
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Segundo dados estatísticos publicados pela Folha de São Paulo e Tribuna de Santos, em 2013, o Guarujá atingiu a maior taxa de roubos por cem mil habitantes do estado de São Paulo – 1.342. A média estadual foi de 589, considerados apenas os municípios com mais de cem mil habitantes.
No ano de 2014, o município do Guarujá suporta uma média de 20 ocorrências de roubo por dia, uma média de pouco menos de um delito por hora.
Em 2015, a Folha de São Paulo noticiava o “clima de desapego” imposto aos turistas, obrigados a se desfazerem de relógios, anéis, carteiras e óculos, para poder circularem em paz pelas ruas da cidade, sem serem abordados por meliantes.
2016 não foi diferente. Um ano marcado por ondas de sequestros no Guarujá.
Em apenas um único fim de semana, a cidade chegou a registrar 22 pessoas sequestradas, feitas reféns e torturadas por criminosos. Houve casos de, em plena temporada de verão, maginais manterem 16 vítimas reféns por 11 horas em um camping.
Casos escabrosos como o linchamento da dona de casa por milhares de celerados morais e mentais, numa das inúmeras “comunidades” inseridas no município, a “execução sumária” de alguns dos responsáveis pelo ato covarde (determinada pelo “tribunal do crime”), ameaças de morte á prefeita (cujo secretário de obras já havia sido liquidado em plena audiência pública por matadores contratados, em passado recente), sequestros em série e um regime de “toque de recolher” em plena temporada, revelam um quadro de miséria e banalização do mal sem precedentes.
O processo de degradação, no entanto, é longo. Vem ocorrendo de forma lenta, impulsionado pela incúria, a incompetência e a irresponsabilidade.
O Poder Público, com os dois “Pês” maíusculos, sem distinção de poderes e jurisdições, é o grande responsável pelo desastre. A chamada Administração Pública desgovernou o Guarujá, desta forma conduzindo o município e seus habitantes para uma espécie de triângulo das bermudas, no qual a sustentabilidade desapareceu.
Os três vértices desse triângulo de sumidouros têm identidade:
1- a corrupção histórica inoculada na prefeitura (seja qual for a gestão), que transformou o controle do uso do solo da cidade num leilão de interesses e compadrios;
2- a perseguição sistemática patrocinada pelo Ministério Público contra QUALQUER iniciativa urbanística ou imobiliária de revitalização da cidade, mistura de aparelhamento ideológico e xiitismo ambiental abominável que judicializou empreendimentos, desmoralizou a segurança jurídica e desestimulou qualquer investimento;
3- a política “criminosa” de segurança pública do estado na região.
Esses fatores se inter-relacionaram de tal forma que contribuíram decisivamente para a favelização da cidade
O destaque fica para o judiciário local, refém das indecisões administrativas, destinatário dos conflitos resultantes da falta de diálogo dos atores responsáveis pelas instituições em crise. Sem comprometimento com planos, programas, atitudes e vontades políticas, a Justiça abraçou a causa da judicialização sem causa… e sem decisão eficaz em qualquer sentido.
A insensibilidade olímpica do judiciário paulista em relação às questões econômicas e sociais não é isolada. Integra o rol de impassibilidades pétreas que contaminam a elite paulista.
De fato, burgueses, pequenos burgueses, pretensos burgueses e funcionários que aspiram parecer ser burgueses, seguem para a baixada santista, litoral norte e litoral sul, mentalmente programados para enxergar apenas o que lhes interessa: o mar, a praia bacaninha e os locais onde se divertir.
A indiferença abissal de nossa “elite” para com o próximo, a faz ignorar solenemente o rosto de quem lhe serve o aperitivo, abre a porta do edifício ou a cancela do condomínio, lhe serve o café ou limpa suas latrinas. Esses serviçais, no entanto, fossem minimamente consultados (ainda que para responder a um “bom dia” ou a um “como vai”), contariam aos patrões, madames e filhinhos paparicados sobre a situação de absoluta miséria vivida por mais de 80% da população litorânea paulista.
Uma população mergulhada no abandono da política local e relegada ao desprezo por um governo estadual que não lhe dá a mínima. Submetida a um judiciário insensível e desengajado da realidade social. Desprovida de policiamento e de ordenamento territorial.
Não se tem notícia de qualquer política pública decente, plano diretor, operação urbana, obras civis, regularização fundiária ou programa de crédito que vise retirar essa camada cada vez mais esquecida de “caiçaras”, “neocaiçaras” ou pretensos caiçaras, do “mangue social” em que se encontra…
A indiferença da elite política e econômica do Guarujá, se faz em prejuízo dela própria – usuária e principal responsável pelos recursos que abastecem o que resta de municipalidade. Sua incapacidade de influir e determinar os rumos da política local reforça a máxima do pensador Jean Paul Sartre: “L’enfer, c’est les autres “(“o inferno são os outros”).
Sempre haverá um bode expiatório e, enquanto isso, pecados expiados se repetem, sem culpa ou remorso.
Destarte, tudo segue orquestrado e em harmonia, em simbiose, interligado, entremeado de conflitos os mais variados, por um período que já ultrapassa 20 anos.
O resultado é o que se vê: a cidadania no Guarujá, hoje, é pura miragem. Prosperam na cidade, sem conflitos legais e ambientais, a favela, o tráfico e a violência.
O Poder Público Guarujaense, há muito morreu na praia.
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