Saiba mais sobre a criação da Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes
Kelen Leite
O Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes foi criado pelo Decreto Federal de 02 de agosto de 2016 com objetivo de preservar: os ambientes naturais únicos do arquipélago dos Alcatrazes, criados pela associação de características geológicas, geomorfológicas e correntes marinhas; a diversidade biológica, incluídas as espécies insulares, endêmicas, ameaçadas de extinção ou migratórias que utilizam a área para alimentação, reprodução e abrigo; e os bens e serviços ambientais prestados pelos ecossistemas marinhos.
O Refúgio é composto pelas ilhas do arquipélago dos Alcatrazes que não estão protegidas pela Esec Tupinambás, além de relevante parte de oceano, totalizando uma área de 67.364 hectares, sendo a maior UC marinha de proteção integral das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Na área do Refúgio é proibida a pesca e qualquer tipo de degradação ambiental. A visitação pública será liberada após a elaboração do plano de manejo que está em andamento. O plano de manejo é o documento que cria regras de funcionamento para as unidades de conservação com o objetivo de garantir que as atividades permitidas ocorram com o mínimo de impacto aos ambientes naturais.
A ilha de Alcatrazes abriga uns dos maiores ninhais do país com nidificação de fragatas (Fregata magnificens), atobás (Sula leucogaster) e gaivotões (Larus dominicanus). Foram registradas 91 espécies de aves no arquipélago dos Alcatrazes, sendo que 37 delas são residentes, entre aves oceânicas, insulares costeiras, migrantes de longo percurso (praieiras), aquáticas costeiras, terrestres e florestais. Dentre as migratórias, 35 têm procedência do Brasil. Algumas espécies, que dependem do ambiente florestal, e são endêmicas da Mata Atlântica, como F. fusca, P. guainumbi, K. nigerrimus, T. coronatus, T. sordida e C. brissonii. Sete das aves oceânicas têm registro para a Antártica. Dessas aves, 12 são consideradas ameaçadas de extinção e, destas, seis são residentes, ou seja, dependem de Alcatrazes para procriação.
Alcatrazes protege espécies endêmicas, que são aquelas que ocorrem exclusivamente nessa ilha em todo o planeta. Uma dessas espécies é a jararaca de Alcatrazes (Bothrops alcatraz), que se alimenta de pequenos invertebrados, bastante comuns na ilha. Com essa restrição alimentar a espécie se adaptou ao ambiente ficando com o tamanho corporal reduzido. Outra espécie que se adaptou à ausência de água doce na ilha foi a perereca de Alcatrazes (Scinax alcatraz), que vive e se reproduz na água da chuva que fica armazenada nas bromélias da ilha. A rã (Cycloramphus faustoi) é outra espécie endêmica da ilha de Alcatrazes, extremamente ameaçada de extinção por ter ocorrência restrita à parte de um ambiente insular pequeno onde qualquer alteração ambiental na ilha pode significar sua extinção.
A vegetação do arquipélago dos Alcatrazes é caracterizada por áreas de mata atlântica e campos rupestres. A ilha de Alcatrazes tem como espécies endêmicas um antúrio (Anthurium alcatrazensis) e uma begônia (Begonia venosa). No estado de São Paulo, Croton compressus e Manettia fimbriata foram coletados apenas na ilha de Alcatrazes. A Sinningia insularis é endêmica da ilha de Alcatrazes e do morro do Recife, em São Sebastião. Uma espécie de begônia da ilha (Begonia larorum) foi encontrada uma única vez em 1923, sendo considerada extinta.
Alcatrazes também é o principal local de abrigo, alimentação e descanso de tartarugas marinhas da costa de São Paulo. Em suas águas são encontradas cerca de 260 espécies de peixes, que são maiores e encontram- se em grandes cardumes no arquipélago, sendo considerada a região de fauna recifal mais conservada das regiões Sudeste e Sul do Brasil.
Na região há a presença marcante de baleias e golfinhos; ao todo são 13 espécies registradas nas áreas da Esec Tupinambás e Refúgio de Alcatrazes. Dessas espécies vale destacar a baleia de Bryde (Balaenoptera edeni), única espécie de baleia residente no litoral; o golfinho pintado do atlântico (Stenella frontalis), espécie comum em mar aberto e registrada principalmente em Alcatrazes em grandes grupos, e a toninha (Pontoporia blainvillei), o golfinho mais ameaçado do planeta, que ocorre nas ilhas de Ubatuba.
Além de exuberante beleza e expressiva biodiversidade, o arquipélago dos Alcatrazes faz parte do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da região. Foi citado nos relatos históricos logo após a colonização do Brasil, e há indícios de uso da ilha como local sagrado pelos povos pré-coloniais para sepultamento dos seus mortos. O paredão granítico de 316 metros de altura no meio do oceano impressiona os navegantes por sua
beleza e suas águas com boa visibilidade e grande quantidade de vida marinha fazem um convite ao mergulho contemplativo.
O mergulho contemplativo e passeios náuticos serão permitidos na área do Refúgio de Alcatrazes após a elaboração do plano de manejo.
A sede administrativa da Estação Ecológica Tupinambás e do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes está localizada na Avenida
Manoel Hipólito do Rego, 1907, na praia do Arrastão, em São Sebastião/SP – Cep 11600-000. Contatos: (12) 3892-4427, (61) 3103-6922. Email: esec.tupinambas.sp@icmbio.gov.br. Visite também o site do ICMBio no www.icmbio.gov.br.