Nesse ano a presença das baleias-jubarte ao longo da costa do litoral brasileiro está chamando atenção de todos! Elas estão emocionando com seus saltos e comportamentos aéreos.
Na região do litoral norte de São Paulo, desde abril elas começaram a aparecer e muitas ainda estão passando por aqui.
Texto: Mia Morete, Rafaela Souza, Marina Marques – VIVA Instituto Verde Azul
Nessa época do ano, as baleias-jubarte da população brasileira, estão migrando das suas áreas de alimentação em altas latitudes na região das Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, Scotia Sea. Migram cerca de 4 mil km para a costa leste do Brasil, em águas quentes para atividades reprodutivas e nascimento dos filhotes.
A caça comercial que ocorreu nas águas Antárticas, durante o século passado, dizimou várias populações de diferentes espécies de baleias no Hemisfério Sul, quase 3 milhões de baleias foram mortas durante esse período obscuro!
Estudos estimam que a população brasileira de baleia-jubarte original continha cerca de 30 mil baleias… Entretanto quando a caça foi proibida mundialmente em 1986 e em 1987 no Brasil, a população continha menos de 1000 baleias, que se concentravam no Banco dos Abrolhos. Ao longo desses 34 anos de proteção, a população brasileira de baleia-jubarte está se recuperando e hoje estima-se que cerca de 20 mil baleias estão frequentando antigas áreas de ocupação, como a região de Ilhabela e São Sebastião.
Nos últimos anos a presença das baleias durante o outono e inverno tem chamado atenção das pessoas.
Inclusive, o VIVA Instituto Verde Azul, em 2019, iniciou um trabalho de pesquisa a partir de ponto fixo de observação em terra, no Bairro de Borrifos, no Sul de Ilhabela justamente para entender “O que as baleias-jubarte estão fazendo em Ilhabela?”. Foi uma enorme surpresa a quantidade de baleias observadas e constatar que elas passavam muito próximas a costeira! E além das jubartes, outras 10 espécies de cetáceos* podem ser observadas na região, esse número é fantástico, já que no mundo inteiro são registradas 90 espécies! Logo, em face a essa observação o projeto de pesquisa do VIVA foi alterado para “Ilhabela, mar de baleias, golfinhos e cia”, com objetivo de caracterizar a presença espaço-temporal das espécies e seus comportamentos.
Neste ano, 2021, a partir do deck de observação do VIVA já foram avistadas 225 baleias-jubarte. Entretanto as baleias-jubarte estão bem próximas a várias regiões costeiras, do litoral do Rio Grande do Sul ao litoral nordestino! A grande maioria parece ser indivíduos mais jovens.
Infelizmente, acompanhando esse aumento na frequência de baleias dando show na nossa costa, estão aparecendo várias mortas. Segundo o Veterinario Dr. Milton Marcondes do Projeto Baleia Jubarte, neste ano até julho, já foram registradas 90 jubartes mortas, no Brasil, somente em São Paulo foram 21 casos. Para sabermos a causa da morte desses animais normalmente é necessário necropsias e inspeções mais detalhadas. A causa da morte é mais clara, quando acontece atropelamentos e marcas são evidentes, ou quando se trata de emalhamento (captura acidental em redes de pesca), e o petrecho está grudado ao corpo do animal. A captura acidental “bycatch” (termo em inglês) infelizmente é uma grande ameaça aos mamíferos aquáticos no mundo, segundo a Comissão Internacional Baleeira, 300 mil baleias e golfinhos morrem anualmente com interações com petrechos de pesca. Além do bycatch, esses animais enfrentam também outras ameaças como, poluição química e sonora, turismo desordenado, consequências das alterações climáticas, sobrepesca e interação com lixo… Como se vê muitos fatores podem estar atuando e causando a mortandade desses animais jovens… Ainda mais nesse início de vida sem a mãe… Os filhotes de jubarte ficam com suas mães por cerca de 1 ano, quando já ocorre o desmame e aparentemente precisam se virar sozinhos.
Trabalhos que envolvam a união de pesquisadores, ambientalistas, comunidade tradicional, pescadores e tomadores de decisão já estão sendo realizados em vários locais de ocorrência de jubarte e também em Ilhabela, onde se formou a Rede Baleia Caiçara, visando unir conhecimento e esforços para que essas ameaças aos cetáceos sejam minimizadas, e o turismo se desenvolva de forma correta e sustentável.
O VIVA Instituto Verde Azul também está desenvolvendo trabalhos junto às escolas municipais de Ilhabela, visando que todas as crianças conheçam e se interessem pelas baleias, golfinhos e cia. que encantam essa região.
Na região de Ilhabela, ao longo desses 3 anos de pesquisa do VIVA Instituto Verde Azul, foram avistadas mães com filhotes recém nascidos e grupos competitivos de reprodução, logo estamos sugerindo que se aumente a região descrita como área reprodutiva de baleia-jubarte no litoral brasileiro, englobando o litoral norte de São Paulo.
*As 11 espécies de cetáceos que já conseguimos observar do ponto fixo de observação do VIVA são: Baleia-Jubarte, Baleia-de-Bryde, Baleia-Franca-Austral, Baleia-Minke-Anã, Boto Cinza, Toninha, Golfinho-Pintado-do-Atlântico, Golfinho-de-dentes-rugosos, Golfinho-Nariz-de-garrafa, Orca e Golfinho comum. Dentre esses alguns são considerados em risco de extinção, como as Baleias-Francas consideradas ameaçadas, os Boto-cinza vulneráveis e as Toninhas, criticamente ameaçadas de extinção.