Como liquidar a corrupção

Membros de uma organização doente podem ser convencidos a fazer escolhas éticas?

O inglês é cada vez mais a segunda língua dos não excluídos. Por isso, não estranhei quando alguém na minha roda sugeriu que alcançamos o state-of-the-art em matéria de corrupção. 

Todo mundo sabe que state-of-the-art, estado-da-arte, indica aquele produto ou aquele processo que representa o ponto mais alto da qualidade e da inovação tecnológica.  Serve para descrever o estado de degradação da administração pública. Roubar é uma arte.

 

Meu colega de roda queria dizer que a corrupção brasileira alcançou um estágio tão avançado, tornou-se tão importante, que poucos podem viver sem ela. Como prova, ofereceu a cena da despedida do diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Ele foi ovacionado pelos 500 funcionários que lotavam o auditório. Aplaudido como um grande craque de bola, um ator maravilhoso, o cientista que descobriu a vacina contra o câncer.

No Estadão, Fernando Gabeira avaliou que “os aplausos a Pagot mostram o imenso abismo cultural que existe entre a auto representação da burocracia e a expectativa das  pessoas que pagam imposto. Eles acham mesmo que foram eles que construíram as péssimas e caríssimas estradas brasileiras. Só podemos tratá-los com a mesma ironia que Brecht dedicava aos que achavam que os faraós construíram as pirâmides.”

Um corte rápido para a sala do superintendente do Dnit no Paraná. Agora a ação é aqui. José da Silva Tiago administra uma regional recordista em irregularidades. Temos o Contorno Norte de Maringá, que já está em mais de 300 milhões de reais – e nada. O Tribunal de Contas da União descobriu que um dos trechos teve sobrepreço de 10,5 milhões.

O TCU mandou também parar as obras da Estrada Boiadeira (BR-487). Suspeita de fraude na licitação e alteração indevida nos contratos. A Gazeta do Povo informa que só foram concluídos 30 dos 170 quilômetros da estrada.

É por isso que o Paraná está no Top Five. Junto com Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul é o estado com maior número de malfeitos.

Torna compulsório acabar com o tripé corrupto-corruptor-intermediário. Mesmo que o intermediário frequentemente seja um líder do Congresso Nacional ou chefão de um dos partidos da temível base aliada.

Convém repetir o mantra: ou o Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o Brasil. Boa parte do custo Brasil vem das estradas inacabadas ou precocemente deterioradas, porque 60% da nossa produção andam sobre pneus.

É possível liquidar a corrupção no estado-da-arte do MT e em outras áreas do governo. Exemplos mostram que, mesmo quando maioria, integrantes de uma organização podem ser convencidos a fazer escolhas éticas – e salvar o emprego.

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