Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis

No final de 2006, após o processo eleitoral que elegeu deputados, senadores, governadores e o presidente da república, várias lideranças da sociedade civil paulistana, convidadas por Oded Grajew – ex-presidente do Instituto Ethos e idealizador do Fórum Social Mundial – reuniram-se para refletir sobre os caminhos e descaminhos da política brasileira, diante das características que se acentuaram nas eleições daquele ano, e sobre as potencialidades existentes na sociedade brasileira para desencadear um processo capaz de constituir uma outra cultura política.

O balanço político-eleitoral indicava que os recursos tecnológicos, marqueteiros, financeiros, subjetivos e retóricos mais encobriram do que revelaram os desígnios programáticos dos candidatos, assim como tornaram irrelevantes conceitos de desenvolvimento, de sustentabilidade, de equidade social e de ética, pois foram secundados diante de propostas/marcas de efeito, desconectadas de quaisquer modelos de desenvolvimento que pudessem traduzir uma idéia de futuro, justamente o que deveria diferenciar partidos e candidatos que concorreram como porta-vozes de projetos de construção desse mesmo futuro.

Omitir ou confundir matrizes discursivas, ideológicas e, principalmente, programáticas, que necessitam estar ancoradas em projeções orçamentárias realistas, indicadores técnicos, prioridades e metas de políticas públicas traduzidas em planejamento de curto, médio e longo prazos, acentuou-se como prática comum para o não-comprometimento político-eleitoral com a perspectiva da prestação de contas, da transparência, da avaliação criteriosa de desempenho e do controle social sobre os governos.

Apostar em discursos genéricos e apelos emocionais em simbiose ativa com uma série de propostas/marcas pontuais da futura gestão hegemonizou as estratégias eleitorais de praticamente todos os principais partidos e candidatos. Este lugar comum, para onde sucumbiram os principais partidos brasileiros, contribui fortemente para a descaracterização do locus da política, possibilita administrações generosas com os financiadores de campanha, descompromete governantes com o ethos republicano e, geralmente, descontinua boas práticas – dado que tornaram-se marcas da gestão anterior – instalando uma espécie de “mãos livres” do eleito para administrar segundo um conjunto de interesses pouco ou nada republicanos.

Ainda que registrando algumas diferenças entre partidos, e destacando exceções entre candidatos, o quadro político geral revelou-se desalentador diante das expectativas que existiam para uma evolução qualitativa do processo político brasileiro, principalmente para aqueles que esperavam avanços significativos no debate em torno de novos paradigmas de desenvolvimento, considerando o lugar que ocupa o Brasil nas fronteiras da preservação ambiental e as potencialidades de sua biodiversidade, assim como esperava-se metas sociais mais arrojadas e uma autentica revalorização do compromisso com a ética na política por meio da efetivação dos instrumentos de transparência e participação na gestão dos poderes públicos, muitos já previstos na própria Constituição de 1988.

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