A expectativa dos idealizadores do Nossa São Paulo era desencadear um processo que pudesse gerar exemplaridade para que movimentos com perspectivas e metodologias semelhantes fossem formados em outros municípios. Rio de Janeiro (Rio Como Vamos), Ilha Bela (Nossa Ilha Mais Bela), Teresópolis (Nossa Teresópolis), Belo Horizonte (Nossa BH), Ilhéus (Ação Ilhéus), Recife (Observatório do Recife), São Luis (Observatório Social de São Luis) foram os seguintes de uma rede, fundada em 8 de julho de 2008, que hoje caminha para quase 50 cidades do Brasil e América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai), muitas em processos de formação.
As Redes Sociais – Brasileira e Latino-americana – por Cidades Justas e Sustentáveis têm dado passos significativos para qualificar o controle social dos poderes públicos, assim como para elaborar ferramentas de conhecimento e monitoramento sobre a qualidade de vida nos municípios, constituindo-se também em importantes atores de interlocução e proposição junto aos legislativos e executivos municipais, dando contribuição substantiva à formação de uma nova cultura política na relação estado/sociedade, em que se dissemina a convicção da ética da co-responsabilidade sobre aquilo que é de interesse público, envolvendo múltiplos atores na gestão da cidade.
Tais convicções, princípios e metodologias suscitam o debate, já não tão novo assim, se a sociedade civil não estaria assumindo funções e responsabilidades que seriam da alçada dos partidos políticos e dos governos. Não se pode desqualificar tal questionamento, dadas as significativas implicações que podem conter em sua base. Em primeiro lugar, é importante reafirmar que a natureza absolutamente apartidária das Redes e de seus movimentos exige a preservação da sua autonomia e independência diante dos governos locais com quem se relacionam.
Em segundo lugar, o interesse público, não o de qualquer coloração particular, mas aqueles expressos em indicadores técnicos e de percepção popular, qualificam tais movimentos a assumirem posições amplas e republicanas, diante de uma democracia representativa que se realiza por meio de partidos que, por definição, expressam visões de partes, interesses parciais, ainda que com ideologias supostamente universais ( na busca da hegemonia ) mas que têm se revelado, historicamente, portadores de projetos contextualizados pelas condições de sua reprodução no poder.
Os movimentos das Redes têm como valor fundamental a democracia participativa, o que significa, no médio prazo, incrementar a gestão democrática com a presença ativa e cidadã nos rumos do poder, equilibrando, com isso, as atuais prerrogativas – quase exclusivas – dos governos de partidos. Além de aperfeiçoar os mecanismos de controle social e transparência, geralmente pouco assimilados pela democracia representativa pura.
A escolha da cidade como o locus preferencial para a envergadura de tal projeto justifica-se plenamente. A Constituição brasileira de 1988 indicou os caminhos da descentralização da execução das políticas públicas por meio dos municípios, dada a sua proximidade com o contexto cotidiano das populações que, cada vez mais, vivem em meios urbanos. Desde Rousseau consolidou-se a visão de que as práticas republicanas seriam melhor ajustadas às cidades. De lá para cá, as idas e vindas dos regimes políticos modernos, os interesses e disputas pelo controle do estado, fizeram retardar esta perspectiva. As Redes Sociais de Cidades vieram para somar-se à luta daqueles que tentam aproximar o povo daquilo que é do povo, ou seja, realizar um programa eminentemente republicano.